Muitas igrejas, muitos problemas

Luís Fernando
 
As religiões, que deveriam ser parceiros de cada um de nós na construção de uma sociedade pacífica e feliz, e também de cidadãos conscientes, solidários e respeitadores da vida e dos direitos de cada um, estão cada vez mais vestidas com a capa da insolência e do perigo para as famílias e para a sociedade. É assim nesta Angola de início do séc. XXI. A coisa vem, no entanto, do século passado.

 É estranho que em nome do mesmo Cristo proliferem igrejas aos milhares, algumas confinadas a uma garagem ou armazém, mas todas elas dizendo-se baseadas na mesma Bíblia. Cada uma delas com uma particularidade que a diferencia das outras. Se umas proíbem os fiéis de comer carne de porco, outras proíbem-nos de aceitar sangue doado. Há as que rezam cultos apenas depois da meia-noite, há as que impõem a cor das roupas, etc. todas elas se sustentam com os dinheiros dos fiéis, ou melhor, os seus pastores e bispos.

 Há famílias que perderam os bens, não em nome da fé ou da religião, mas roubadas por supostos guias espirituais. As universais e mundiais e pentecostais novas brasileiras, por exemplo, embora mais discretas, depois da hecatombe do DIA do FIM em 2012, continuam a ir ao bolso do crente. Substituíram a prática do ruído pela do sussurro, mas não se tornaram santas. Basta ver a multiplicidade e a facilidade com que produzem milagres em massa todos os dias. Mas estes pastores não tiveram já tempo para operarem um milagre na sociedade a acabarem com a fome, com a miséria e com a violência contra inocentes? Este é o propósito de Deus, para todos.

 O Islão, por seu lado, também se alimenta fartamente em Angola, ainda que sem reconhecimento oficial do Estado. Os seus fiéis estão presentes nos milhares de cantinas e armazéns por todo o país. A posse das cantinas é ilegal, os seus vendedores são ilegais na sua maioria, as suas mesquitas são ilegais. Nada se sabe sobre como se organizam, como exportam capitais, como educam os filhos, da validade dos seus casamentos com angolanas e angolanos.
Ainda não se lhes ouviu chamarem-nos em voz alta de infiéis, mas consideram assim a grande maioria dos angolanos. Ainda não tomaram posições públicas de força, mas continuam a sua evangelização, convertendo angolanos. E já são um milhão.
Se as evangélicas brasileiras e congolesas estão na lógica da oportunidade do negócio, o islão, secular, tem outros fins, acredita que o profeta mandou cobrir o mundo com o seu manto, tal como o catolicismo crê ser esta a sua missão. O problema está nas intolerâncias e na capacidade do Estado(todos nós) defender os seus princípios de laicidade, a lei, os direitos individuais e de pôr fim ao uso da religião com fins económicos de políticos.
 
Director do jornal O País,
passou pela direcção do Jornal de Angola
e é autor de vários romances.


 

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