Bagdade (Virou terra deserta)


Dois meses depois dos acontecimentos que desalojaram milhares de pessoas Bagdade, no município do Kilamba Kiaxi é hoje terra deserta, de amontoados de escombros nos limites do qual, à distância de umas centenas de metros se vislumbram algumas casas de um vizinho bairro – o Iraque.

Curiosamente o Iraque foi o bairro principiante das demolições. Esta sobrevivência das casas que se deveu a resistência dos seus habitantes, que tiveram de enfrentar uma feroz investida das máquinas na altura bem asseguradas da empresa, cujo nome contrasta com os desígnios do original – Jardim do Éden.

Com a sua resistência os habitantes conseguiram travar as demolições, mas à custo de muitas vidas. Pelo menos seis vítimas mortais são contabilizadas por disparos de armas de fogo da polícia que assegurava os “invasores”.

Patrulhada por forças militares e policiais, Bagdade está agora circundada de uma longa e profunda vala, sulcada na extensão do perímetro, de propósito para fechar os seus acessos a área.

A grande maioria dos moradores dispersou-se, acolhidos por familiares, ou arrendando outros espaços. Os poucos que identificamos no local vivem traumatizados devido os acontecimentos de Junho passado.

Messima Miguel é uma das desalojadas. Vende numa praça e queixa-se da falta de acesso as áreas de cultivo e os abusos a que se sujeitam da polícia que chega a mandar despir as roupas.

Marcelina Tomás vive amargurada. Quando iniciaram as demolições, ela velava o rebento de 9 meses que acabara de perder. Conta que a polícia ordenou a retirada do corpo da criança, para que fosse demolida a casa. Não acreditou que estava a acontecer.

As demolições não pouparam as elites locais.

O Reverendo Patrício da igreja Vitória do Eterno Comunidade Mundial da Aliança Cristã perdeu a sua casa, com latas improvisou outra precária nos arredores.

Recordado sobre o que se passou naquele dia, disse simplesmente “é pecado”.

Lembro que mais de 15 mil pessoas foram desalojadas no Bagdade, bairro do município do Kilamba Kiaxi, numa operação combinada de demolições que envolveu a polícia nacional, forças armadas e paramilitares.

Alexandre Neto
angola 24 horas
Florentino

VOA

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